dc.description.resumo | Há vinte anos, em uma jornada de trabalho, conheci Alter do Chão, um dos lugares
mais belos da Amazônia. Foi um encontro maravilhoso, extasiante, onde pude vivenciar e
admirar a grandiosidade da natureza em sua expressão mais esplêndida, encantadora e
envolvente, a qual me fez pensar a diversidade sociocultural em seus espaço-tempos. A
paisagem, composta por comunidades, símbolos, memória, pessoas, turistas, reunia
natureza, sociedade, espaço e cultura como um todo indissociável, no qual as exuberantes
praias e a beleza das águas do rio Tapajós asseguravam o encontro do ser humano com a
natureza, num verdadeiro mergulho ao mundo Amazônico. A experiência vivida me levou a pensar a escala do tempo daquele lugar, imaginando o mundo dos habitantes no transcorrer de décadas e séculos, sendo guiados e
envolvidos pela grandiosidade do Tapajós, um rio que inspira e respira territorialidades
múltiplas. Pela experiência percebi o que significava a Amazônia com povos amazônicos -
com ribeirinhos, indígenas, extrativistas, quilombolas, camponeses -, a reunião indissociável
de cultura, natureza, campo e cidade. Essa foi a minha impressão, minha leitura do lugar e
do espaço. Algum tempo depois, soube, pelos jornais, que se planejava construir um porto
graneleiro em Santarém. Tratava-se do porto da Cargill, uma das gigantes no mundo do
agronegócio da soja. A localização do porto, na entrada da cidade, no encontro da cidade
com o rio, era por demais uma irrupção do capital global na paisagem de Santarém, a bela
cidade ribeirinha, que podemos gentilmente designar como a capital do oeste paraense. Um
objeto, o porto, confere muitos significados ao espaço regional, sobretudo, por ser uma
obra do capital global totalmente indiferente aos valores cênicos e simbólicos do espaço
local, a qual marcaria, pela sua grafia, os tentáculos do agronegócio no coração da
Amazônia. Que significados esse sistema de engenharia acarretara para o lugar, para o
espaço ribeirinho, para a região de Santarém? | pt_BR |